Javier Milei estava certo com seu plano econômico?

Javier Milei estava certo com seu plano econômico?

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Milei ganha confiança ao tirar a Argentina da recessão – O crescimento virá?

A economia da Argentina com Milei vem colhendo fortes elogios ao redor do mundo. Ele é amado pelo mercado, pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) e, mais recentemente, pela revista inglesa The Economist.

O argentino é capa da revista deste mês. De acordo com o artigo, Milei tem conduzido uma das mais drásticas implementações do liberalismo econômico desde a era de Margaret Thatcher, e suas reformas devem servir como estudo de caso para o mundo todo.

Como veremos neste artigo, o país alcançou feitos importantes, como a queda do risco-país, da inflação e do dólar, além de conduzir um forte equilíbrio das contas públicas.

O presidente diminuiu drasticamente o gasto público. Milei odeia tanto o Estado que, em entrevista ao The Economist, disparou:

“Tenho infinito desprezo pelo Estado.”

Contudo, seus críticos dizem que as consequências sociais do seu plano, chamado “Plano Motosserra”, são perversas e até desumanas para a população.

Preço na bomba de gasolina
Photo by Krzysztof Hepner on Unsplash

Vitórias importantes de Milei – Como está a economia da Argentina com Milei?

No final de novembro, o presidente da Argentina anunciou: “A recessão terminou e o país começou novamente a crescer.” Entretanto, seus desafetos alegam que a maioria dos setores econômicos está cerca de 10% abaixo dos níveis de 2023. Por outro lado, a projeção é de crescimento de 5% em 2025.

A Argentina tem uma previsão de encerrar 2024 com superávit fiscal pela primeira vez em 16 anos. Ademais, a inflação no país passou de 25% ao mês, em dezembro de 2023, para 2,7% em outubro de 2024, uma grande vitória do ponto de vista macroeconômico. Para saber mais sobre inflação temos o artigo O que é inflação? Conheça os principais índices de inflação do Brasil: IPCA, INPC, INCC, IGPM, tabela FIPE

Apesar da forte oposição, o governo de Milei está conseguindo aprovar projetos no Parlamento, levando adiante seu plano de austeridade econômica.

Ao mesmo tempo, a taxa de risco do país passou de cerca de 2.000 para 850 pontos no início de novembro de 2024.

O risco-país é um indicador de confiança dos mercados globais em relação aos países. Desse modo, ele mostra a probabilidade de um país não pagar aos detentores dos títulos de sua dívida pública externa.

Embora as medidas de austeridade sejam fortes, a popularidade de Milei tem aumentado. Segundo uma pesquisa da consultoria Casa Três, a aprovação do governo passou de 42% em setembro para 49%, tornando-o mais popular do que seus antecessores.

Parte dessa alta popularidade vem da opinião dos argentinos que votaram em Milei de que sem mudanças drásticas, a situação só iria piorar.

E a inflação no Brasil, como está? veja nosso artigo “Qual IPCA hoje? Tabela IPCA 2024 atualizada”

Outras vitórias importantes

Adicionalmente, em julho de 2024, o Índice de Produção Industrial Argentino (IPI) cresceu 7,5%. Em agosto, a alta foi de 1,8%, e em setembro, subiu 2,5%.

O IPI é o levantamento de todas as atividades econômicas que compõem o setor da indústria de transformação no país e é medido pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos – INDEC – uma espécie do IBGE argentino (inflacao-argentina-ago-2024-11-set-2024).

Além disso, outubro foi o primeiro mês positivo nas vendas do varejo em 2024, com um aumento de 7,4% em comparação com setembro.

Paralelamente, Milei conseguiu diminuir os gastos públicos em quase 1/3 em termos reais, o que representa uma redução de despesas em torno de 5% do PIB.

Por fim, a confiança dos investidores aumentou, e o desemprego está relativamente baixo, em 7,6%, o que demostra que a economia da Argentina com Milei vem conseguindo sucessos de curto prazo. 

Pobreza na argentina
Pobreza na argentina

O outro lado – Fome e pobreza extrema na Argentina na economia da Argentina com Milei

O custo social das medidas de Milei recai sobre a população. No país, há mais argentinos pobres do que não pobres.

Nesse sentido, a taxa de pobreza subiu muito, passando de 40% para 53% em apenas seis meses, um recorde dos últimos 20 anos. Ou seja, apesar dos fatos macroeconômicos, mais de 50% da população argentina está abaixo da linha de pobreza.

Já a indigência atingiu 17,9% da população. De acordo com o Observatório da Dívida Social Argentina (ODSA-UCA), o quadro social é o pior desde 2004.

Por outro lado, em 2023, período antes de Milei assumir o poder, a pobreza estava em 41,7% e a indigência em 11,9%, segundo o Indec. Neste contexto, duas em cada três crianças são pobres, ou seja, mais de 66% das crianças abaixo de 14 anos estão em situação de pobreza.

Veja o gráfico da pobreza na Argentina

Pobreza na argentina grafico
Pobreza na argentina grafico

 

A pobreza é tão grande que, de acordo com uma entrevistada da BBC News Mundo, muitas famílias têm nas doações de refeitórios de ONGs “a única refeição do dia”.

Segundo Rosa, de 57 anos, entrevistada da BBC:

“Às quartas-feiras, quando o refeitório não está aberto, comomos erva-mate cozida com pão em casa.”

Neste ambiente, cerca de 25 milhões de pessoas vivem abaixo da linha de pobreza na Argentina, de acordo com o Indec. Ou seja, há mais argentinos pobres do que não pobres, considerando que a população total do país é de 46,65 milhões de habitantes.

Para piorar, de acordo com a Unicef ​​(Fundo das Nações Unidas para a Infância):

“Todos os dias, um milhão de meninas e meninos vão dormir sem jantar no país.”

O consumo de carne despencou no país. Muitos comem apenas arroz ou macarrão, o que fez aumentar os casos de desnutrição infantil. Norma Piazza, pediatra, explicou à agência de notícias Reuters:

 “As crianças estavam sendo hospitalizadas com problemas neurológicos e convulsões devido à deficiência de vitaminas, como a B12, algo associado à falta de consumo de carne.”

Ao ser questionado sobre a esperança em um futuro melhor, um menino de 12 anos, entrevistado por Veronica Smink da BBC, respondeu de forma emblemática:

“Sim, porque vou ser traficante.”

Veja o gráfico da indigência na Argentina

indigencia na argentina grafico
indigencia na argentina grafico

Além da fome e da pobreza, outros pontos preocupantes na economia da Argentina com Milei

Apesar das vitórias importantes, a economia da Argentina com Milei ainda não decolou, o mercado prevê que o PIB argentino cairá até 4% em 2024. Outro ponto muito criticado é a perda do poder de compra da população. O salário caiu 10% em termos reais.

Mesmo com a redução mensal, a inflação anual da Argentina fechou agosto de 2024 em 236,7%. Apesar da queda em relação a julho, que registrou 263,4%, o índice anual continua muito elevado.

Outro fator criticado é a taxa básica de juros do país, atualmente em 35%. Além disso, a Argentina deve mais de US$ 40 bilhões somente ao FMI, o que agrava a situação das reservas de dólares do país.

Quando assumiu o poder, em dezembro de 2023, a Argentina possuía cerca de US$ 21 bilhões em reservas. O presidente chegou a elevar esse número para US$ 30 bilhões em abril de 2024, mas atualmente o valor está em torno de US$ 27,2 bilhões.

O FMI estima que o nível adequado de reservas do país deveria ser de US$ 62 bilhões. Para comparação, o Brasil tinha US$ 372 bilhões em reservas em setembro de 2024.

O baixo nível de reservas acende o alerta para um calote possível. Adriana Dupita, economista da Bloomberg Economics, destacou:

“Sem acumular reservas, cresce muito a chance de um novo calote da dívida pública no ano que vem.”

Vale lembrar que o último calote da Argentina foi em 2020, quando o país deixou de pagar cerca de US$ 500 milhões de sua dívida.

Indices de inflação
Foto de Sara Kurfeß na Unsplash

Outros Indicadores econômicos preocupantes

Apesar do aumento recente no Índice de Produção Industrial (IPI) desde julho de 2024, a produção industrial argentina acumulou uma queda de 12,7% até setembro. Em agosto, a queda foi de 13,6%, o que indica uma leve recuperação.

Paralelamente, nos primeiros nove meses de 2024, o IPI apresentou uma queda acumulada de 12% na comparação anual. Ademais, entre janeiro e outubro de 2024, houve uma redução do consumo em 13,2% em relação ao mesmo período de 2023.

Mesmo com a leve recuperação em alguns setores, a perda de dinamismo econômico é evidente, e muitos analistas apontam que o impacto negativo das reformas ainda persiste em grande parte do mercado interno.

Javier Milei
Javier Milei

Está ruim? Milei avisou

Uma crítica que não pode ser feita a Milei é de não ter alertado a população sobre os efeitos iniciais do seu plano. Desde o início de seu mandato, ele foi claro ao dizer que a situação da economia da Argentina com ele iria piorar antes de melhorar.

Em seu discurso de posse, declarou:

“Piorar para depois melhorar.”

Como Milei conseguiu implementar essas mudanças economia da Argentina? 

Os avanços econômicos de Milei são frequentemente descritos como um experimento devido à radicalidade das medidas adotadas. O plano é visto como ousado econômico até mesmo para os padrões do FMI.

Historicamente, os governos argentinos gastaram mais do que arrecadaram, recorrendo ao Banco Central para imprimir dinheiro e financiar os déficits. Esse excesso foi um dos fatores principais para a alta inflação constante no país.

Milei interrompeu essa prática. Os economistas atribuem a queda drástica à inflação ao ajuste fiscal severo, ao fim da impressão de dinheiro pelo Banco Central e à desregulamentação econômica.

No entanto, há acusações de que o governo de Milei, juntamente com o ministro da Economia Luis Caputo, estariam recorrendo a um “malabarismo financeiro” para ocultar o défice fiscal. Carlos Rodríguez, ex-assessor de Milei e economista respeitado, é um dos críticos dessa abordagem.

Futuro da argentina
Foto de Bradley Hook

A Argentina sairá vitoriosa na final do mandato de Milei?

Se a redução da inflação for mantida, isso poderá abrir caminho para um crescimento econômico sustentável. A confiança do mercado pode ser revitalizada, atraindo novos investimentos e promovendo a geração de empregos. Um cenário de inflação controlada também é propício para o desenvolvimento de políticas sociais que visem melhorar a qualidade de vida dos argentinos.

Por outro lado, embora as primeiras etapas do plano econômico tenham produzido resultados iniciais notáveis, o final ainda é incerto. O impacto social das reformas continua sendo uma grande preocupação.

Apesar das dificuldade, parte do povo argentino acredita em um futuro melhor. Neste sentido, mesmo com os péssimos indicadores sociais, uma pesquisa realizada pela Universidade de San Andrés revelou que 43% dos entrevistados acreditam que as coisas irão melhorar.

Os argentinos já sentiram a piora, agora todos aguardam o momento em que as coisas começarão a melhorar em suas vidas. Enquanto isso, o ministro da Economia, Luis Caputo, pediu paciência e fé à população e declarou “As coisas vão melhorar.”

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