Por que a alta do emprego no Brasil preocupa economistas e o Banco Central
- EconomiaNoticiasTrabalho e emprego
- 13 de maio de 2025
- No Comment
- 32
Introdução ao cenário do emprego no Brasil
Nos últimos meses, o Brasil tem experimentado um crescimento significativo no emprego, uma mudança que tem chamado a atenção de economistas e do Banco Central. Dados recentes indicam uma diminuição acentuada na taxa de desemprego, que, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atingiu níveis mais baixos desde o início da pandemia.
Dentre as principais indústrias que estão contratando ativamente, destacam-se a construção civil, o comércio e o setor de serviços. A construção civil, especialmente, apresenta uma demanda crescente por mão de obra, impulsionada por iniciativas de infraestrutura e projetos habitacionais. Este cenário contrasta com o passado recente, onde a alta taxa de desemprego era um desafio significativo.
Esse cenário atual, de alta de emprego no Brasil, é uma continuidade de 2024, que conforme nosso artigo “Brasil Cria 1,69 Milhão de Vagas com Carteira Assinada em 2024” teve criação recorde de empregos formais, de acordo com o CAGED.
Os dados mais recentes da Pnad Contínua, que revelam uma queda da taxa de desemprego, com mais de 104 milhões de empregados formais, o país tem o menor nível de desemprego desde 2012. Todavia, embora a redução no desemprego seja boa para o trabalhador, ela traz questões sobre possíveis altas da inflação.
Dessa forma, o aumento do emprego gera aumento de renda e do poder aquisitivo do trabalhador, embora positivo para o consumo, acende o alerta com a inflação. Nesse sentido, um mercado de trabalho aquecido pode gerar escassez de mão de obra, elevando os salários e, consequentemente, os custos das empresas, que repassa esses custos para os preços pagos pelo consumidor.
A alta na geração de emprego no Brasil é multifatorial. Entre eles, observa-se o retorno gradual das atividades econômicas. Outros fatores incluem o aumento do consumo doméstico e a melhora na confiança do consumidor, que incentiva empresas a expandirem suas operações e contratarem novos funcionários. Contudo, esse aumento na empregabilidade também gera um debate sobre os possíveis efeitos colaterais, como a inflação e a qualidade dos empregos gerados.

Impactos da alta do emprego na inflação
O aumento no emprego é frequentemente visto como um sinal positivo para a economia, uma vez que pode indicar um crescimento econômico robusto. No entanto, essa elevação da taxa de emprego pode também suscitar preocupações relacionadas à inflação. Quando mais trabalhadores são inseridos no mercado, há uma tendência de aumento na renda disponível, o que, por sua vez, pode levar a um crescimento na demanda por bens e serviços. Essa dinâmica gera alta na inflação.
A relação entre emprego e inflação é frequentemente discutida dentro da Teoria de Phillips, que sugere que há uma relação inversa entre a taxa de desemprego e a inflação. Com o aumento do emprego, as empresas enfrentam uma maior demanda por seus produtos. Para atender a essa demanda crescente, muitas vezes elas se vêem forçadas a aumentar os salários para atrair e reter mão de obra, especialmente se a taxa de desemprego cair. O aumento salarial, embora benéfico para os trabalhadores, pode resultar em uma escalada nos custos de produção, que, posteriormente, são repassados aos consumidores na forma de preços mais altos.
Recentemente, o Brasil tem enfrentado um cenário onde a inflação tem se mostrado resistente. Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que a inflação tem pressionado diversos setores, refletindo tanto nas tarifas de serviços quanto nos preços de alimentos. O Banco Central, por meio da sua política monetária aumenta a taxa SELIC com intuito de conter a inflação. Dessa forma, o aumento do emprego, embora positivo sob vários aspectos, é um fator que precisa ser monitorado.
Reações do Banco Central para a alta do emprego no Brasil
Uma das principais ferramentas à disposição do Banco Central são os ajustes nas taxas de juros. Quando percebe que a taxa de desemprego está caindo e as perspectivas de crescimento se intensificam, o Banco Central pode optar por elevar as taxas de juros (SELIC). Essa ação visa inibir o consumo e, consequentemente, reduzir a alta dos preços. Um aumento nas taxas de juros torna os empréstimos mais caros, desencorajando o crédito e o gasto das famílias e empresas, o que pode impactar o crescimento econômico no curto prazo.
O BACEN continua preocupado a combinação entre economia aquecida e inflação. Em 2024, o PIB brasileiro subiu 3,4%, já o IPCA avançou 4,83%, acima do teto da meta de inflação de 4,5%.
Há uma preocupação que a atividade econômica e o mercado de trabalho brasileiro continuam apresentando um desempenho acima do esperado, o que pode contribuir para um aumento dos preços. Ou seja, para o Banco Central a economia está aquecida e o emprego em alta, o que, em sua visão, cria risco inflacionário.
Os motivos da inflação são:
- Alto nível de atividade econômica;
- Mercado de trabalho aquecido;
“O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho. Tal cenário prescreve uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período prolongado para assegurar a convergência da inflação à meta.” explica o comunicado do Banco Central ao mercado.
Os impactos dessas decisões são amplos e complexos. Aumentar a taxa de juros pode provocar um efeito cascata: enquanto pode controlar a inflação, essa ação pode também acentuar a desaceleração econômica, impactando não apenas o setor produtivo, mas também a vida das pessoas, que podem sentir o peso de custos de crédito mais elevados e menores oportunidades de trabalho. Assim, as reações do Banco Central devem ser cuidadosamente ponderadas para não comprometer os progressos no emprego e na saúde econômica do país.

Qualidade dos empregos no Brasil e alta informalidade
A dinâmica atual do emprego é marcada por um aumento na formalização de postos de trabalho, mas a qualidade desses empregos e os salários oferecidos ainda necessitam de atenção. É imperativo que o governo e o setor privado trabalhem em conjunto para criar condições que favoreçam a geração de empregos de qualidade.
Outro ponto que preocupado é que a taxa de informalidade permanece elevada, em torno de 39%. O Brasil ainda tem um grande número de trabalhadores que são motoristas de aplicativos, entregadores de comida, camelôs. Ou seja, apesar da queda do desemprego a informalidade ainda é muito grande. Esses trabalhadores, na informalidade, não contribuem para a previdência e estão desamparados em caso de acidentes.